Dissertação sobre Impactos da Escalada em Vegetação de Afloramentos Rochosos (mais conhecidos como pedras, rochas, boulders ou, genericamente, como locais aonde nos divertimos!!)

Por Stephanie Maia

Em abril de 2015 defendi minha dissertação de mestrado sobre o tema que me apresentou ao montanhismo e foi a razão pela qual  comecei a escalar: o uso das rochas por escaladores e quais são os impactos das escalada na vegetação dos afloramentos rochosos. Depois de um estudo introdutório sobre o montanhismo carioca, seu histórico e instituições, percebi que, primeiro, era importante distinguir todas as nuances do que significava ser montanhista, conhecer bem o meu ‘objeto’ de estudo e, segundo, que para isso eu precisava vivenciar a experiência da montanha. Percebi que jamais seria levada a sério pela comunidade montanhista se falasse apenas de fora, se não compreendesse o que motiva uma pessoa a sair arriscando a própria vida por aí, ou no mínimo passando uns perrengues, quando poderia estar realizando atividades mais seguras e confortáveis. Enfim, acho que aqui todo mundo sabe do que estou falando, não é mesmo?!

Além dos impactos negativos que nossa atividade causa à vegetação de afloramentos rochosos, também discuti em meu estudo a importância que nós temos na proteção da natureza quando seguimos as diretrizes de mínimo impacto, respeitamos e trabalhamos junto com as instituições públicas responsáveis pela gestão das áreas protegidas e quando compartilhamos nosso conhecimento com aqueles que chegam, por vezes, tão afobados pela aventura que lhes escapam apenas o contemplar e respeitar o tempo da natureza.

Por fim, cinco anos depois de concluir o trabalho árduo de escrever uma dissertação e vencer os traumas desse período (pós-graduandos entenderão), venho agora compartilhar com vocês um pouco do que aprendi.

Recomendo a leitura aos interessados em história, botânica, unidades de conservação, escalada e montanhismo.

Boa leitura!

https://drive.google.com/file/d/1apOorXRKe5qGfy3vPcpMHiNJ63LWKHrm/view?usp=sharing

MEPA – Origem e finalidade

Autor: André Ilha

Publicado no Boletim CNM 2016-2

No Brasil, como no restante do mundo, a escalada originalmente tinha como objetivo único chegar ao topo da montanha, ou então da parede quando esta não estivesse claramente associada a um cume. Os meios para se atingir este objetivo eram, de uma maneira geral, considerados pouco importantes – o que contava era o resultado.

O uso de artifícios como pitons e grampos para auxílio direto na progressão do escalador era visto com naturalidade, e nas grandes montanhas dos maiores maciços do planeta, o emprego de uma logística pesada, de inspiração militar, envolvendo carregadores, acampamentos intermediários estocados com comida e equipamento para pernoite e milhares de metros de cordas fixas era a norma.

Havia exceções, contudo, especialmente nos países anglo-saxões, como Inglaterra e Estados Unidos. Nestes, assim como em certas partes da Alemanha, desde muito cedo se cultivou o interesse pela escalada livre, ou seja, aquela na qual o escalador progride valendo-se apenas dos meios naturais que a rocha oferece como agarras e fendas, e graus notavelmente elevados foram atingidos muito cedo, desde o início do século XX.

O Brasil, no entanto, seguia uma tendência, digamos, europeia continental, que se refletia até no sistema de classificação de escaladas por nós adotado, que é claramente calcado no sistema alpino tradicional. Assim como na França e na Itália, o termo “escalada artificial” era destinado apenas para longas sequências de pitons ou grampos a serem vencidas com o auxílio de estribos, cordas duplas etc.. O uso de pontos de apoio artificiais isolados não conflitava com o conceito de “escalada livre”, e era encarado com muita naturalidade.

Quando eu comecei a escalar, em 1974, a parte realmente “livre” das escaladas brasileiras era a distância percorrida entre o grampo em que se estivesse pisando até o grampo que seria agarrado acima. “O grampo é a melhor agarra!”, cansei de ouvir, e esforços para evitá-los como tal eram vistos como uma excentricidade pitoresca, quando não ostensivamente desencorajados. Não surpreendentemente, a classificação brasileira terminava no VI grau, como a dos países alpinos europeus, e por aqui apenas um lance no Paredão Lagartão, no Pão de Açúcar, era unanimemente considerado como pertencente a este grau. Os mais conservadores, inspirados por seus semelhantes europeus, bradavam ser impossível ir além, repetindo um embate que levou o célebre alpinista tirolês Reinhold Messner a dar o título de Septimo Grado (O Sétimo Grau) para o livro em que defendeu a ruptura com a antiga ordem, e a expansão sem limites dos limites acanhados impostos ao desenvolvimento técnico na escalada pelos antigos tradicionalistas e sua engessada tabela de classificação.

No início, eu fazia como me ensinavam, claro, mas logo comecei a me sentir incomodado. Aquilo não me parecia certo. Ajudado por uma boa fluência no inglês, passei a ler compulsivamente revistas de escalada estrangeiras, e aí me dei conta de que a minha inquietação não era uma patologia isolada, mas, sim, uma forma de encarar a escalada que estava ganhando força de forma avassaladora em todo o mundo, Cada vez mais se valorizava, sempre que possível, a ascensão de escaladas em rocha apenas pela rocha, reservando os equipamentos de segurança exclusivamente para deter as quedas dos escaladores, em especial as de guia.

Naquele momento, em todos os países, inclusive naqueles com uma visão mais tradicional do esporte, jovens escaladores estavam se lançando em lances livres cada vez mais difíceis, fosse em novas vias, fosse repetindo vias abertas no velho estilo, agora porém sem usar os seus pontos (fixos ou móveis) de segurança como apoio artificial para avançar. Houve, na verdade, uma autêntica corrida para se fazer a “primeira ascensão em livre” (first free ascent) das antigas escaladas com artifícios, que passaram a merecer, muitas vezes, graus assombrosamente mais elevados do que os originais. Na Inglaterra foi-se além: antigas escaladas artificiais, quando feitas inteiramente em livre, ganharam não apenas um novo grau, mas também um novo nome! É como se uma escalada inteiramente nova tivesse surgido no mesmo espaço físico onde antes, incidentalmente, havia outra à moda antiga.

Ciente disso, propus, no início dos anos 80, que fizéssemos o mesmo por aqui: que tentássemos não apenas abrir novas vias no estilo “livre de verdade”, mas que, também, “liberássemos” as antigas vias com artificiais contínuos ou pontos de apoio artificiais isolados, como se fazia no resto do mundo.

Isto precisava ser registrado de alguma forma, não apenas para fazer justiça a estes avanços, mas, também, para servir como inspiração para realizações ainda mais significativas. Calhou que nessa época eu estivesse trabalhando, em parceria com minha ex-esposa, Lúcia Duarte, na primeira publicação brasileira voltada para o registro sistemático de vias de escalada: o “Catálogo de Escaladas do Estado do Rio de Janeiro”, que veio a ser editado em 1984 pela hoje extinta Cia. de Turismo do Estado do Rio de Janeiro (Flumitur).

Então nos ocorreu que no nosso trabalho poderíamos não apenas apontar quando uma escalada conquistada com diversos pontos de apoio artificiais tivesse sido guiada completamente em livre, como nos modernos guias estrangeiros. Em vez disso, caso uma via tivesse tido apenas alguns de seus pontos de apoio “eliminados”, mas outros ainda resistissem, esperando que escaladores melhor preparados técnica e fisicamente conseguissem evitá-los, isso deveria estar de alguma forma consignado. Assim, ficaria claro para todos o que ainda restava por fazer e lançaria toda aquela imensa energia disponível na nova geração em busca deste objetivo.

Desta forma, em vez de nos valermos da opção binária de escalada livre x escalada não livre (não importando se houvesse um ou dez pontos de apoio a serem eliminados), criamos o conceito de “máxima eliminação de pontos de apoio” (MEPA) para registrar estes progressos, registrando entre parênteses quantos pontos de apoio artificiais ainda não haviam sido evitados numa via qualquer. Quando a via já tivesse sido guiada inteiramente em livre, o número entre parênteses seria zero. Ou seja, teríamos uma ferramenta para acompanhar sistematicamente o progresso da escalada carioca e brasileira, em que os graus, com o tempo, ficariam cada mais altos e os números entre parênteses cada vez mais baixos, até eventualmente chegarem a zero.

Como na Europa, esta mudança conceitual não se deu sem resistência, e a reação foi especialmente feroz a partir de um grupo então encastelado no Centro Excursionista Rio de Janeiro (CERJ), para quem nós éramos todos meros “acrobatas”, escaladores elitistas e exibicionistas que perversamente não aderíamos à visão “certa” (a deles) do esporte. A tensão teve o seu ápice no I Encontro Brasileiro de Montanhismo, ocorrido em setembro de 1983 no auditório do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, em Teresópolis. Ali, entre aplausos e vaias dos partidários de cada filosofia, eu li um texto defendendo o admirável mundo novo da escalada brasileira e os avanços que já estavam em curso, texto este que depois veio a ser editado com o título de “Manifesto da Escalada Natural”. Em sua versão impressa, ele foi acompanhado por um texto complementar intitulado “Pontos de Apoio”, em que eu explicava didaticamente o que deveria ser entendido como “escalada livre” na visão moderna do esporte. Mas a expressão MEPA só foi cunhada mesmo no ano seguinte, como dito acima.

Embora criado para registrar e, mais do que isso, inspirar um momento específico da escalada brasileira, o conceito de MEPA, a rigor, mantém-se válido até hoje, pois é extremamente comum que vias ainda sejam conquistadas com um ou mais apoios artificiais que só mais tarde serão eliminados, seja pelos próprios conquistadores, seja por outros escaladores.

Montanhismo e Seleção Natural

Montanhismo e Seleção Natural

Por Rosângela Gelly – Revisão: Dalton Chiarelli e Lilian Gelly

Publicado no Boletim CNM 2015-2

Pense em quando você nasceu … o quanto precisava aprender do mundo, da vida e das pessoas para poder chegar aqui onde está: vivo e com saúde. Talvez você não se dê conta do quanto precisa saber dessas coisas para conseguir chegar inteiro a cada final de dia.

Todos os seus ancestrais foram muito hábeis em vencer os desafios do mundo a cada dia. Você é o resultado disso. E quando você nasceu começou a ganhar sua própria experiência.

Se tropeçar na calçada, você saberá o que fazer para não cair de ”cara no chão”, pois passou por um processo longo e duro para aprender isso, certo?

E agora vamos trazer isso para o mundo do Montanhismo.

Todo o aprendizado adquirido, desde o nosso nascimento, vai conosco para esse ambiente novo. As defesas que usamos no nosso dia a dia parecem ser suficientes para lidar com tudo o que pode acontecer. Mas não são, já que a Montanha exige técnicas e habilidades específicas.

Cada dia é um dia. Cada tropeço ensina, mas não é definitivo. O aprendizado aumenta o conhecimento, mas não impede tropeços futuros.  Se um acidente foi evitado, parabéns! A garantia é apenas do que passou, não há garantia do futuro.

O homem tem uma diferença, e uma grande vantagem sobre os outros animais: é capaz de passar suas experiências para os outros de sua espécie. Isso o torna capaz de, sem mesmo vivenciar alguma situação, saber que ela existe, pensar em uma solução, simular a sua ocorrência e se preparar para ela. Incrível não?!

Resumindo: como você pode estar preparado para um evento que potencialmente ameace sua vida em uma montanha? Pense ….

O que fazer no momento em que você escorrega rumo a um precipício em uma caminhada? Se a corda se solta do mosquetão? Ou se um  “friend” se solta de uma fenda?  Naquele segundo em que você pensa: “Uhm, ferrou!”. E lá está a Mãe Gravidade, democrática, esperando você de braços abertos.

Mas lembra que dissemos  que é possível desenvolver respostas a eventualidades a partir da experiência de outros?

Se você entra em um banheiro e vê uma placa escrita “Piso Molhado”, o que você faz? Talvez pense que não faz nada. Mas isso não é verdade. Todo uma mecanismo de defesa é acionado para você se “defender” de uma eventual queda.

Da mesma forma, é preciso que esteja nato, em seu mecanismo de defesa, as técnicas e habilidades necessárias para responder a uma situação de risco na montanha embora em nenhum lugar vai ter uma placa dizendo “Pedra Molhada”. Você precisa estar “ligado” o tempo todo.

Esteja treinado e apto a responder adequadamente. Ler apenas não basta. Treinar, treinar, treinar. Tudo isso requer condicionamento. Da confecção de nós, fazer corretamente seus procedimentos, e garantir o de outros, até participar de um resgate. Quanto mais se aprende, mais é possível entender que há muito a aprender.

Estar na Montanha faz parte do processo de seleção natural.

Algumas Características das Plantas sobre as Rochas

Publicado no Boletim CNM 2015-2

Por Katia Torres Ribeiro (adaptado por Stephanie Maia)

As plantas encontradas nos paredões podem ser rupícolas, quando crescem diretamente sobre a rocha, ou saxícolas, quando se localizam em pequenos platôs ou fendas com solo. Nessas situações, a água que chega escoa rapidamente e os nutrientes são escassos. Por isso, as plantas crescem bem devagar, e muitas têm adaptações especiais para lidar com a escassez de água, como é o caso dos cactos e bromélias formadoras de tanques, que armazenam água, ou das orquídeas e bromélias do gênero Tillandsia, que conseguem captar rapidamente a umidade das nuvens, ou ainda as velózias (canelas-de-ema) e capins-ressurreição, que toleram a dessecação violenta das folhas com posterior re-hidratação das mesmas folhas.

Não é fácil se fixar na rocha. Imaginem quantas sementes se perdem por secura ou enxurrada para que uma se fixe e, finalmente, cresça. Basta observar uma via inacabada na face S do Pão de Açúcar, o Paredão Universal, para constatá-lo: ela começou a ser conquistada na década de 60, mas depois foi abandonada e até hoje não apresenta sinal claro de recuperação da vegetação luxuriante que cobre esta face úmida da montanha.

É muito difícil para uma semente conseguir viajar de uma montanha para outra e, além disso, chegar a germinar. Talvez por isso haja tantas plantas que são específicas de uma ou de poucas montanhas adjacentes. Plantas em diferentes montanhas, quando não trocam sementes ou pólens, vão se tornando cada vez mais diferentes até que formam espécies distintas, e assim surgem os muitos casos de endemismo restrito (espécies só encontradas em uma única montanha).

Depois que algumas espécies mais tolerantes se fixam, começa a haver a interceptação de partículas de rocha, de húmus e detritos de plantas, e assim surge um protossolo, em que vão crescer outras plantas, como algumas gesneriáceas, bromélias e aráceas. Em geral, há primeiro a entrada de liquens e musgos, que crescem extremamente devagar (alguns liquens crescem apenas 1mm por ano!). Essas plantinhas minúsculas vão decompondo a rocha química e fisicamente, e vão juntando um pouco de solo embaixo de si, e assim também ajudam as sementes das outras espécies a se fixar. Estas então germinam e começam a crescer de forma bastante lenta também. Algumas delas crescem prostradas na rocha, e formam algo parecido com um tapete, que ajudam ainda mais a fixar partículas de solo, e mais e mais espécies conseguem se estabelecer ali. No entanto, muitas vezes esses extensos tapetes estão precariamente presos na rocha, quase que apenas aderidos, e sua retirada, bastante fácil, interrompe um processo de décadas ou mesmo de séculos de duração.

Em resumo, podemos dizer que essas espécies crescem devagar, têm dificuldade de estabelecimento (germinação + fixação) e, portanto, “investem” na longevidade. Estas plantas são, no mais das vezes, muito velhas! Ruy Alves, pesquisador do Museu Nacional do Rio de Janeiro, estimou a idade das canelas-de-ema (Vellozia candida) do Pão de Açúcar, no caminho do Costão e Paredão São Bento, em cerca de 150 anos, e em cerca de 500 anos as canelas-de-ema gigantes da Serra do Cipó.

Por que as montanhas têm plantas diferentes umas das outras?

Muitos fatores determinam quais plantas podem ser encontradas em uma certa montanha. Além do acaso e das chances das sementes terem chegado lá, as plantas são afetadas pelo regime de luz, pela rugosidade da rocha (tamanho dos cristais da rocha e forma de fragmentação), presença de fendas e outras concavidades, composição química da rocha e outros detalhes do relevo, além da presença de dispersores e polinizadores.

Também é bastante evidente o papel da insolação, da declividade e da umidade. A declividade, por exemplo, define bastante quais espécies podem ser encontradas, pois algumas delas só conseguem crescer em paredes verticais, enquanto outras dependem de um pouco de terra, e são mais comuns nas paredes menos inclinadas.Dessa forma, a vegetação sobre rocha do sudeste do Brasil e rica em endemismos, cada montanha ou conjunto de montanhas tem suas espécies particulares.

A fragilidade da vegetação
Essa vegetação sobreviveu relativamente bem até hoje, mas na verdade é extremamente frágil. A fragilidade tem dois componentes importantes: a facilidade para remover a vegetação (resistência) e o tempo que ela leva para se recuperar (resiliência). Para retirar a vegetação sobre rocha não são necessárias nem grandes ferramentas, nem tratores, nem fogo, como em uma floresta. Basta a habilidade de subir (ou descer…) na rocha e a força de algumas pessoas, ou mesmo a passagem freqüente de cordas para causar um grande estrago. Já o tempo para a vegetação se reconstituir por meios naturais ainda não foi estimado, mas é certamente muito longo. Em locais com muitas fendas a vegetação pode voltar ao que era antes em menos de 100 anos, mas em superfícies lisas os processos são mais lentos. A recuperação destas áreas é impressionantemente difícil e lenta, e no caso de se querer apressá-la, muito cara. O que é destruído agora tem de ser considerado como perda total, a não ser que sejam implementados programas intensivos de recuperação.

A velocidade com que novas vias vêm sendo estabelecidas ameaça a estabilidade da vegetação e mesmo a existência de muitas espécies, e é preciso lutar por normas de conduta que minimizem o impacto em vias novas ou já criadas, ao mesmo tempo em que se tenta determinar um patamar máximo de retirada de vegetação das paredes.

É mais fácil destruir e não se importar com plantas que parecem um simples mato. E o que é o mato? Pra maior parte das pessoas, é aquilo que vive em qualquer lugar, que cresce em abundância, que “dá como mato”. Decididamente este não é o caso das plantas sobre rocha, muitas delas assim tão pequenas e na verdade mais velhas que nossas bisavós, e que conhecemos tão pouco. É responsabilidade de todos nós poupar e ensinar os outros a proteger essa vegetação da nossa sempre crescente velocidade.

 

Fonte original: http://www.femerj.org/sobre-a-femerj/diretoria/departamento-de-meio-ambiente/150

Acesso em 20/05/2013

A trilha Transcarioca um sonho prestes a se concretizar

A trilha Transcarioca um sonho prestes a se concretizar

Horacio E.  Ragucci
Guia e presidente do Centro Excursionista Brasileiro

Publicado no Boletim CNM 2014-3

transcarioca

As trilhas de longo percurso vêm sendo implantadas há muito tempo, tal vez o exemplo mais notável seja a Apalachian Trail nos Estados Unidos, com aproximadamente 3500 km de percurso que começou a ser traçada em 1925.

Na Europa existem entre outras onze super-trilhas de longo percurso E1 a E11 perfeitamente sinalizadas e mapeadas, que percorrem o continente em todas as direções atravessando todos os países da Europa Ocidental. Os exemplos se multiplicam pelo mundo afora, da Nova Zelândia ao Paquistão ou a Costa Rica.

No ano 2000 Pedro Cunha e Menezes publicou o livro “Transcarioca, todos os passos de um sonho”, no qual relatava o percurso realizado com amigos, por trilhas que iam da Restinga de Marambaia ao Pão de Açúcar. Este seria o embrião da primeira trilha de longo percurso em nosso país. É necessário mencionar que existem hoje no Brasil diversos “Caminhos” (Caminho da Luz, Caminho da Fé, Caminho do Sol, Passos de Anchieta etc.); que percorrem longas distancias mas não são propriamente trilhas, pois boa parte deles se desenvolve ao longo de estradas e caminhos rurais. Outras trilhas de longo percurso, como os Caminhos da Serra do Mar, já estão quase prontas e seguem o ideário da Transcarioca.

Há aproximadamente dois anos o percurso idealizado por Pedro Menezes começou a tomar forma junto com outras iniciativas, tais como a criação do Mosaico Carioca, que reúne em seu seio representantes de todas as unidades de conservação da cidade do Rio de Janeiro. Assim começaram a aparecer as pegadas da Transcarioca em algumas das mais belas trilhas da Cidade.

Hoje o trajeto está quase totalmente definido, e boa parte dele já se encontra sinalizado; indo de Guaratiba ao Morro da Urca, num percurso de aproximadamente 170 km. Desta forma o trekker poderá percorrer em 7 ou 8 dias os encantos de algumas das melhores trilhas cariocas. A trilha possui numerosos pontos de entrada e saída o que possibilita também percorrê-la aos poucos, descortinando vagarosamente algumas das mais belas paisagens que a Cidade Maravilhosa pode oferecer.

Para as próximas olimpíadas o Rio de Janeiro disporá de um novo atrativo eco-turístico de grande valor, atraindo à cidade os amantes do trekking e dos esportes de aventura, e os cidadãos fluminenses, que sem dúvida saberão desfrutar de um conjunto de trilhas bem sinalizadas, que se estenderá ao longo de toda a cidade.

No dia 14 de setembro será realizado na Transcarioca um grande mutirão com a participação de mais de 300 voluntários, que efetuarão tarefas de sinalização e manutenção em aproximadamente 30 setores em que foi dividida a trilha. Seguramente será um evento memorável para o montanhismo do Rio de Janeiro, tratando-se tal vez do maior mutirão que tenha acontecido em nossa cidade. Participarão clubes de montanhismo, ong’s, Parques Federais, Estaduais e Municipais, Bombeiros. Policia Ambiental, Guarda Municipal etc.

Será a concretização de um sonho longamente acalentado pelos amantes das trilhas e da natureza do Rio de Janeiro.

 

 

Dicas aos novos escaladores

Dicas aos novos escaladores

Publicado no Boletim CNM SETEMBRO 2014

Parabéns a todos os que se formaram no CBE-CNM-2014, agora inicia outra etapa, agora todos os participantes são responsáveis por todos os procedimentos.

Algumas das dicas que precisam estar presentes o tempo todo na cabeça!

  • Use capacete! Qual é a melhor situação? Um capacete rachado ou sua cabeça sangrando? Torne um hábito colocá-lo assim que chegar na base;
  • Só comece a dar segurança ao guia, após estar com o nó de encordoamento bem feito na sua cadeirinha;
  • Posicione seguramente em relação à rocha quando dar segurança ao guia, para o caso dele cair, você não ser jogado de encontro à rocha;
  • Pratique ascensão! A Pracinha de Itacoatiara é um ótimo local. Se você necessitar ascender depois de vários esticões, ficará satisfeita por ter praticado previamente;
  • Fique atenta com a comunicação: palavras curtas e bem diferentes das outras! Fale o nome do seu parceiro, repita os comandos dados por ele e diga “OK” no final;
  • Conheça a limitação de seu parceiro e escale dentro dela;
  • Evite escalar muito além de sua capacidade técnica e emocional por pressão de colegas de escalada ou pressão de seu ego. Escale por que você quer escalar e não porque os outros insistem com você;
  • Saia de sua zona de conforto em local controlado, para evoluir com segurança;
  • Não aceite novos procedimentos como dogmas, analise-os e experimente-os em local controlado;
  • Coloque um nó blocante como backup durante o rapel! Este momento é o mais crítico, é quando ocorre a maioria dos acidentes;
  • Antes de retirar a solteira para começar o rapel, verifique se o aparelho de freio está colocado corretamente e se o nó autoblock está bloqueando. Faça um nó nas duas pontas da corda;
  • Faça tudo com atenção e sem pressa! Boas escaladas e divirta-se!
Trilhas esquecidas de Niterói

Trilhas esquecidas de Niterói

Publicado no Boletim CNM DEZ/2013

Devido ao bom trabalho realizado no Parque Estadual da Serra da Tiririca nos últimos anos, nos habituamos a apenas frequentar as bandas da Região Oceânica de Niterói, em busca de nosso refugio nas pedras e florestas.

Entretanto, devido à expansão urbana e a violência associasao-francisco-morro-da-viracao-3da, acabamos por “esquecer” que existem outras trilhas no município…

A trilha que leva ao topo do Morro do Santo Inácio, uma montanha com 375 metros de altitude e situado no bairro de São Francisco já foi à montanha mias frequentada de Niterói, até os anos 90, mas, devido aos fatores descritos acima, deixou de ser frequentada…

Verdade seja dita, na região do Morro do Santo Inácio, Parque da Cidade e arredores existem 9 trilhas tradicionais que caíram em desuso, fora vias de escalada (4 se não me engano).

No quesito escalada, o potencial de novas vias na face Norte do Morro do Santo Inácio é incrível! Por sinal, existe um acesso a essa parede, situado pela Rua Mário Joaquim Santana, número 204, entrando por uma escadaria de uma vila (que não tem portão) e, ao final da vila, o ultimo lote a esquerda não possui muro e fica direto na floresta. Deste ponto, uma caminhada de 150 metros é suficiente para chegar à parede, fica aí a dica meu povo! È a parede onde se localiza a via “Paredão Surpresa”.

Voltando as trilhas, temos a trilha tradicional para o Morro do Santo Inácio, que fica na Rua Manuel Duarte, em São Francisco. Esta rua até recentemente tinha um portão, que foi retirado, mas infelizmente o acesso à trilha está fechado por um portão e cerca eletrificada instalada por moradores.

A segunda opção para se chegar ao Moro do Santo Inácio é pelo Parque da Cidade, pela Estrada do Maceió. A partir do Posto da Guarda Municipal Ambiental, por um caminho de estrada e posteriormente trilha, é um caminho de cerca de 2 quilômetros para ir e 2 para voltar, de fácil orientação.

Do Parque da Cidade para Cafubá ou Piratininga, temos 4 trilhas, mas apenas uma está em condição plena de uso, que é acessada pela Estrada da Viração. Esta, tendo inicio também da Guarda Municipal, possui uma extensão aproximada de 3 quilômetros, terminando ao lado da AABB Piratininga (infelizmente na saída do futuro túnel Charitas X Cafubá).

Uma outra trilha que termina em Cafubá é a chamada de Trilha Colonial. Tem esse nome por ter, em seu caminho, a ruína de uma ponte da época do Brasil Colônia, em meio a Mata Atlântica. Mas esta está bem fechada, mas está sendo negociada junto a Prefeitura de Niterói a reabertura da mesma, possui apenas 1,1 quilômetros e sai no bairro do Cafubá.

Na área do Parque da Cidade existe uma série de trilhas curtas, usadas principalmente pelo pessoal de bikes, logo, seu uso te que ser com muito cuidado e atenção, enquanto não for demarcado o uso das mesmas.

Temos mais duas, de extensão mais considerável, que originalmente eram usadas após os grupos acessarem o Morro do Santo Inácio. A primeira é a travessia São FranciscoXJurujuba, com 8 quilômetros de extensão, que de iniciava na Rua Manuel Duarte, em São Francisco, dali se ia ao Morro do Santo Inácio, depois, ao Parque da Cidade, Estrada da Viração até o final da mesma (onde tem um mirante usado pelo povo do Voo Livre atualmente) que vira uma trilha que termina em um mirante (hoje a floresta fechou quase totalmente este mirante) e, a partir dali, se descia a montanha paralelo a cerca do Forte Rio Branco, terminando a trilha na ruína dos Jesuítas que existe entre a pedreira e o Forte Rio Branco (área particular que hoje proíbe o acesso), próximo ao Clube Naval.

E a variante que termina no Bairro Jardim Imbuí, em Piratininga, que também passa por outra ruína Jesuíta escondida na Mata Atlântica, esta, com 7 quilômetros de extensão.

Enfim, temos ainda muitas trilhas e vias de escalada (estas a serem conquistadas) mais próximas à região central de Niterói, inclusive um potencial Campo Escola bem no vale abaixo ao antigo Hotel Panorama, que alguns chamam de “Campo Escola da Viração”.

Montanhas não nos faltam… Quem se habilita a frequentá-las?

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Acesso às Montanhas Fluminense

Acesso às Montanhas Fluminense

Publicado no Boletim CNM MAR/2013

O município conta, de forma resumida, com três serras principais: a Serra da Tiririca, os morros do Jacaré, Cantagalo e Serra do Malheiro e o Complexo dos morros da Viração, Santo Inácio e Sapezal.

Com estas três serras e as outras formações menores, o Município possui um potencial enorme para o porte de aventura, com visuais incríveis e formações interessantíssimas, mas infelizmente, apesar do potencial, hoje o montanhismo está quase que restrito a Serra da Tiririca.

O motivo é simples e trágico, sendo simplesmente a ingerência sobre nossas áreas verdes.

A Serra da Tiririca, com a criação do Parque Estadual de Serra da Tiririca, contou com a proteção do Estado, que permitiu que esta área continuasse segura quanto à violência urbana, e que o acesso a para a maioria de suas trilhas e paredes não fosse cercada por muros e casas, embora mesmo assim tenhamos tido perdas, são elas:

  • Trilha do Alto do Mourão via o Recanto de Itaipuaçú (fechada pelo condomínio Ubá Pedra do Elefante);

No Morro das Andorinhas, houve duas perdas:

  • Trilha da praia de Itaipu para o Morro das Andorinhas (fechada na década de 90 por uma construção ilegal);
  • Trilha da Praia de Itacoatiara para o Morro das Andorinhas, com o fechamento da Rua das Orquídeas (anos 80) e construção do Condomínio Village Itacoatiara (anos 90).

Já os morros do Cantagalo, Jacaré e Serra do Malheiro, tiveram grande redução de sua cobertura florestal, mas o acesso em si à suas trilhas não foi cerceado diretamente, exceto pelo fato que o crescimento da Favela do Cantagalo trouxe violência à região e com isso, houve alguns assaltos a pessoas que acessaram o Morro do Cantagalo. Por consequência, o ponto culminante dessa serra, com 405 metros de altitude, deixou de ser frequentado por montanhistas e escaladores. Mas atualmente, com a anexação dessa região ao Parque Estadual da Serra da Tiririca, podemos ter esperanças de ver essa região acessível novamente.

Os morros do Santo Inácio, Viração e Sapezal são o caso mais grave, pois não estão protegidos por leis específicas, tendo ocorrido desmatamentos pelas suas bordas e um aumento exponencial da violência contra frequentadores da montanha (assaltos à mão armada). Neste complexo, tivemos as maiores perdas de acesso, que são:

  • Acesso à trilha tradicional ao Morro do Santo Inácio via Rua Manuel Duarte, em São Francisco (a rua foi fechada por moradores e o final desta foi cercado por uma cerca eletrificada, devido à violência urbana);
  • Três trilhas que davam acesso de São Francisco ao bairro de Piratininga e Cafubá (construções de casa nas saídas);
  • A travessia São Francisco X Jurujuba;
  • Acesso à face norte do Morro do Santo Inácio, às vias de escalada ali existente e ao enorme potencial de conquistas de vias nesta parede de 250 metros de comprimento (construções de casas em praticamente todos os terrenos da Rua Mário Joaquim Santana, embora recentemente descobrisse um acesso por uma vila, ao fim dessa rua, a essa parede);
  • Acesso à parede sul/sudeste do morro do Santo Inácio, que hoje se encontra cercada pela favela do Maceió.

Em áreas fora destas serras, é possível a prática de esportes de montanha, como a região da Praia do Sossego, com ótimos bolders e o final da prainha de Piratininga, com um bom potencial para bolders, embora quase que inexplorado.

Tivemos também a criação e perda com o campo-escola do Centro, próximo à prefeitura nova (Rua São Pedro), criado no fim dos anos 90 com três vias, mas onde a prefeitura no inicio de 2000 fez uma construção e colocou grades lá, inviabilizando o uso da mesma.

Um outro local que temos uma certa dificuldade de acesso é o Morro do Morcego. Para acessar a Face Sul, temos que pedir permissão para entrar por uma casa, e dependemos do bom humor do morador, que se começarmos a aumentar a frequência, ele nega a entrada e somos obrigados pegar um grande vara mato a partir da praia de Adão. Na Face Norte, temos grande dificuldade se quisermos chegar por mar, houve casos em que um escalador foi ameaçado enquanto trabalhava na abertura de uma via, ficando impossibilitado de voltar, visto que foram soltos cachorros para impedir que ele retornasse.

De forma geral, infelizmente, as áreas que não se encontram protegidas sobre legislação ambiental específica (Unidades de Conservação) foram as que mais perderam sua cobertura florestal, e foram onde mais perdemos acesso às florestas e rochas.

O município, em suas gestões anteriores, não salvaguardou as florestas e os acessos às mesmas, em verdade, tratou-as como áreas para futuras construções, e não áreas para se preservar os ecossistemas, o lazer e o modo de vida dos frequentadores destas regiões niteroienses.

Salvo a região do Parque Estadual da Serra da Tiririca, as outras serras fluminenses se encontram em uma situação crítica, porém, reversível nos quesitos proteção e acesso.

Vamos torcer (e pressionar!) para que a gestão atual da Prefeitura de Niterói possa salvaguardar nossas belas montanhas.

Excesso de hidratação pode causar complicações ao organismo

Por Paulo Gomes | 21/02/2012 – Atualizada às 07:58

Publicado no Boletim CNM 2013-1

Recomenda-se com veemência que os corredores mantenham um alto nível de hidratação de seu corpo para superarem suas provas com relativa tranquilidade. No entanto, casos recentes de morte por excesso de ingestão de água chamaram atenção para o tema.

Em 2007, a norte-americana Jennifer Strange faleceu após participar de um concurso que consistia em beber o máximo de água sem urinar. No ano seguinte, a britânica Jacqueline Henson ingeriu grandes quantidades do líquido como parte de sua dieta de emagrecimento e também pereceu.

São casos extremos, mas de pessoas que teoricamente não tinham uma perda considerável de líquidos. No entanto, a morte de Cynthia Lucero na Maratona de Boston em 2002 serve de alerta para todos os corredores.

O médico do esporte e colunista do Webrun, Dr. José Marques Neto, explica o que acontece em nosso organismo quando o excesso se torna perigoso. “Com a ingestão exagerada de água, o líquido extracelular fica muito diluído e o líquido interno mais concentrado”, conta.

“Com isso, a água migra de fora para dentro da célula, que incha e leva a um edema cerebral. O cérebro incha e pressiona os centros do bulbo, que controlam o funcionamento cardiorrespiratório e vascular do nosso corpo”, esclarece o médico.

Segundo o Dr. Neto, não há um parâmetro bem definido para evitar complicações dessa natureza. “Não tem essa de ‘ah, se eu tomar três copos estou bem hidratado, se tomar quatro eu morro’, é algo subjetivo e razão de controvérsia na literatura médica”.

Urina é indicativo- Dr. Neto afirma que o consenso entre os fisiologistas é de que a sede já caracteriza um quadro de desidratação, por isso é encorajada a ingestão de água nas corridas mesmo que não haja sede. “A cor da urina é o melhor parâmetro para o leigo, porque serve como indicativo”, pondera.

Neste caso, vale o bom senso. A urina escura, assim como a sede, já é um claro sinal de desidratação e, portanto, não deve ocorrer. “Sinais de hiperidratação são uma urina extremamente clara, transparente. Se ela estiver apenas razoavelmente clara, você está bem hidratado”, define.

“Existe uma variabilidade individual, são vários parâmetros que mudam de pessoa para pessoa. O importante é se manter hidratado ao longo do dia, andar sempre com uma garrafinha”, recomenda o médico.

Isotônicos- Há também a crença de que tomar muito isotônico pode criar pedra nos rins. “Isso também é referência individual. Teoricamente causa cálculo renal pelo excesso de sódio, mas é mais na esfera da teoria do que na prática. O importante é usar apenas como propósito de reposição, quando houver desgaste”, diz Dr. Neto.

Em termos gerais, tanto para água quanto para isotônicos o médico afirma que “o problema está no abuso, não no uso. É muito mais importante estar hidratado antes da prova, ao longo da semana, do que chegar no dia e querer recuperar tudo durante a corrida”, conclui.

Fonte: http://www.webrun.com.br/home/n/excesso-de-hidratacao-pode-causar-complicacoes-ao-organismo/13253

Montanhismo Fluminense: Um Fenômeno recente?

Montanhismo Fluminense: Um Fenômeno recente?

Publicado no Boletim CNM – DEZ/2012

Quando da fundação do Clube Niteroiense de Montanhismo, em 2003, se debateu sobre este tema, se o CNM seria “inovador” ao ser criado na região leste da Baia da Guanabara. Logo depois de sua criação, a surpresa! O sexto clube de montanhismo do Brasil era de Niterói! O extinto Clube Excursionista Icaraí (CEI), fundado em 03 de maio de 1939, com o lema; “Sois brasileiros? Quereis conhecer de perto a vossa pátria? Inscrevei-vos no Clube Excursionista Icaraí.” Com atividades de caminhadas tanto em Niterói quanto no Distrito Federal (a atual cidade do Rio de Janeiro).

Mas, entre o CEI e o CNM temos um hiato de tempo de 63 anos …, o que houve nesse período? Existia a prática de montanhismo em Niterói e arredores? Em Niterói sempre houve atividade de tropas escoteiras em diversos bairros, o que sem dúvida, permitiu que a prática do montanhismo continuasse em nosso berço, sendo algo um pouco “naturalizado”, mas não com a alcunha de montanhismo, era simplesmente o hábito de frequentar nossas florestas e montanhas, mas infelizmente não como a ideia de um clube excursionista como conhecemos hoje em dia.

Os excursionistas da Capital vinham frequentar nossas montanhas que, de certa forma, eram pouco frequentadas, sendo que a primeira conquista de uma via de escalada em Niterói foi, parece, em 1956, batizada de “Artificial da Conquista”, na Agulha Guarish, na Serra da Tiririca. Tivemos também a “Chaminé Campelo” em 1956 no morro do Cantagalo, na Reserva Darcy Ribeiro (acho que agora, deve ser conhecida como Setor Darcy Ribeiro, do Parque Estadual da Serra da Tiririca) e o “Paredão Surpresa” em 1978, no Morro do Santo Inácio.

Na década de 70, houve cerca de 8 conquistas de vias, 13 conquistas na década de 80 e 10 até fi ns dos anos 90.

Após este período, as rochas niteroienses testemunharam uma verdadeira febre de novas de vias de escaladas!

Mas voltando a idéia de Clubes de Montanhismo, em junho de 1989 houve a fundação do Grupo Caminhante Independente, por Gerhard Sardo que, originalmente, almejava a ideia de um clube excursionista, tanto que em suas programações de atividades, o informativo do GCI constava um item curioso, que era “Influência Ideológica” onde elencava os nomes dos clubes de montanhismo cariocas. Houve também o Grupo Terra, mas de curta duração.

Em 1992 o GCI executou um projeto que foi, a seu modo, um marco na História das Montanhas de Niterói, a campanha SOS Montanhas de Niterói, quando foram realizados mutirões de limpeza em todos os topos e trilhas do município. Nesse momento, as pessoas que frequentavam as trilhas se deram conta de duas informações importantes:

SIM, nós temos montanhas! E do quanto estavam degradadas nossas montanhas.

Infelizmente também em 1992 o GCI começou a enveredar o caminho do movimento de defesa ambiental, perdendo de forma irreversível sua ideia original, que era o de um clube de montanhismo. Mas essa iniciativa acabou rendendo frutos, e membros deste grupo fundaram: o Grupo Cauã de caminhadas; Grupo Sussuarana, de Jorge Antônio Lourenço Pontes e Flávio Siqueira, ambos de curta existencia no território fl uminense; e o Projeto Ecoando, em 1994, de Cássio Garcez, que é um misto de empresa de ecoturismo e de um Clube Excursionista, que existe até hoje.

O ano de 1994 também foi marcado pela tragédia no montanhismo fl uminense. Em 25 de setembro de 1994 um grupo do Clube Excursionista Brasileiro, em uma atividade de caminhada ao Morro do Cantagalo, foi atacado por um enxame de abelhas africanizadas, gerando o óbito de Herald Zerfas (guia) e Joaquim Afonso Braga. Herald era um montanhista apaixonado pelas montanhas de Niterói, onde realizava diversas caminhadas e escaladas, sempre com bom humor e um chapéu estilo tirolês.

Ao iniciarmos o novo milênio, o montanhismo em Niterói ressurgiu em sua forma mais organizada e, com o apoio da FEMERJ montanhistas organizaram, finalmente, o segundo clube de montanhismo de Niterói, o Clube Niteroiense de Montanhismo, que teve em sua primeira diretoria Gustavo Muniz (presidente), Alan Marra (vice-presidente), Nise Caldas (tesoureira), Jerônimo dos Santos (diretoria técnica) e Alex Figueiredo (diretoria de meio-ambiente).

Agora, nove anos se passaram desde a primeira reunião organizada por essas pessoas e, dessa forma, tivemos um período de diversas atividades, explorações e conquistas, mas principalmente, 9 anos se passaram de risos, aventuras e camaradagem que nos deram muitas alegrias e histórias para contar.