Aposentando meu mosquetão

Aposentando meu mosquetão

Boletim CNM MAR-2015

Inspecionar seu Equipamento de Proteção Individual – EPI deve ser um hábito corriqueiro em sua vida. A inspeção de alguns tipos de equipamento de escalada é fácil: costura abrindo, rasgo na fita, etc. Com o mosquetão observamos se a porta funciona direito, sem barulho; se não há desgaste do metal feito pela corda, fratura visível, mesmo da largura de cabelo, corrosão etc. Com o aparecimento de qualquer um destes sinais, devemos aposentar o equipamento.

Sempre escutei vários escaladores aconselharem aposentar mosquetões depois de quedas, de qualquer altura. Muitos dizem que é mito e continuam com o mosquetão, caso a altura seja somente de até um metro (mais ou menos altura da cintura), no caso de somente uma queda. Acima desta altura a opinião é unânime: é necessário aposentar mosquetão, por questão de prevenção.

Resolvi pesquisar na internet para saber a opinião sobre quedas de até um metro, achei vários fóruns e algumas matérias . As pesquisas técnicas/experimentais são, em sua maioria, com alturas para escalada industrial. Desprezei qualquer informação sem metodologia científica. Foi difícil separar as informações confiáveis, das pouco confiáveis.

Escolhi a página

http://www.outdoorsafetyinstitute.com/index.php/news/single/should_you_retire_a_dropped_carabiner/

como principal fonte deste artigo, traduzi e encolhi o texto, pois tem muitas informações técnicas que poucos se interessariam. Para esses, o endereço está acima.

O mosquetão de escalada ao cair em superfície dura (concreto/rocha) pode apresentar microfraturas (invisíveis a olho nu) que podem enfraquecer a estrutura e podem torná-los inseguros. Fique alerta! Na dúvida, aposente-o. Sem discussão se cair pela segunda vez, mesmo de baixa altura, segurança acima de tudo. Microfraturas são reais e podemos encontrar várias pesquisas sobre o assunto, como a Simulating Micro-Fracture in Metal-Matrix Composites (http://iucat.iu.edu/iupui/6439632).

A única maneira de realmente saber se o mosquetão após uma queda pode continuar sendo usado é através de um teste de tensão numa máquina, ou seja fazê-lo quebrar, doa-lo para a ciência.

A grande questão da microfratura é que não vemos a olho nu numa inspeção caseira. Esta fratura pode causar um estresse concentrado e propagar sob grandes cargas, reduzindo cada vez mais a força do material. O metal ou qualquer outro material é imperfeito por natureza e tem defeitos em sua estrutura básica, incluindo pequenas falhas em suas ligações moleculares, semelhantes à micro fissuras. Caso a queda comprometa uma dessas fissuras, uma micro fratura pode ocorrer. A pergunta prática agora não é mais se micro fraturas surgem numa queda, e sim se o impacto realmente faz diferença na estrutura geral do mesmo, se faz diferença no suportar a carga prevista de fábrica e aguentar a próxima queda numa escalada.

Tradicionalmente um mosquetão era fabricado com forjamento frio, onde o metal é amalgado plasticamente, sua forma é deformada numa temperatura abaixo da cristalização, mas se rompiam mais facilamente. Atualmente, muitos mosquetões são fabricados com o processo de forjamento quente, permitindo assim formatos diferentes do equipamento, preservando a ductilidade, ou seja, podem se deformar sem se romperem.

O autor do artigo em que me baseei, Jim Margolis, junto com escaladores amigos, em 2007, quando estudante de engenharia mecânica, testou 30 mosquetões novos do mesmo modelo, com quedas de 6,3, 12 e 32 m , filmou cada queda e testou a carga máxima de cada um. Forjados a frio ou a quente. Uma queda para cada mosquetão. Não percebeu nenhuma diferença comparando com outros 10 (de controle) nunca usados, ou seja, que não sofreram queda. Este teste, no padrão da UIAA, foi feito tracionando o mosquetão até sua ruptura.

Ele afirma que o número de mosquetões testados não foi grande, nem quedas em diferentes rochas, nem diferentes formatos de mosquetão, por isto não pode ser considerado um teste exemplar. Para ver os vídeos e as tabelas, entre na página que está no início deste artigo.

Ele também testou, sem padrão científico, um mosquetão colocado no chão e recebendo objetos bem pesados caindo nele até o momento de ficar deformado. Ao ser tensionado, quebrou com 11 KN, bem abaixo das padrões de escalada. Nunca escale com mosquetões deformados!

Steve Nagode, engenheiro da REI testou 30 mosquetões em quedas de 10 metros e os comparou com outros 30 novos mosquetões (controle) do mesmo lote de fabricação. Não encontrou nenhuma diferença entre os grupos.

Margolis (mestre em engenharia mecânica) diz que apesar de não estar licenciado para atestar tecnicamente sobre o assunto, aconselha o escalador a não desprezar qualquer queda do mosquetão, nem ser displicente com qualquer equipamento. Mas que não precisamos ficar neuróticos com uma queda da cintura para baixo. Não houve estudo com mosquetão com quedas repetidas.

Um alerta que ele faz no final do artigo e eu assino abaixo: Escalar é perigoso, e não há razão para aumentar os riscos usando equipamento inapropriado (como é caso de queda de mosquetão).

Troque o mosquetão em nome da segurança de sua vida e a do outro. Custa pouco comprar um mosquetão novo, se compararmos com a possibilidade de um acidente.

Meu conselho: apesar de encontrar opiniões técnicas afirmando que podemos continuar usando o mosquetão depois da queda baixa (até de um metro), eu digo troque-o (principalmente se for emprestado! Seja ético!) em nome da segurança de sua vida e a do outro.

Mantenha-se seguro, o tempo todo!

Fontes:

http://www.outdoorsafetyinstitute.com/index.php/news/single/should_you_retire_a_dropped_carabiner/
http://www.onrope1.com/Myth1.htm
Do you need to retire dropped carabiners?
http://blackdiamondequipment.com/en/faqs.html##CLIMB
http://www.rei.com/learn/expert-advice/caring-for-your-carabiners.html

Escale Melhor e Com Mais Segurança, de Flávio Daflon e Cínthia Daflon

Escale Melhor e Com Mais Segurança, de Flávio Daflon e Cínthia Daflon

Escale Melhor e Com Mais Segurança, de Flávio Daflon e Cínthia Daflon.

Por Eny Hertz

livro_029A indicação deste livro é para complemento/reforço dos ensinamentos passados nas aulas do CBE. Em função da dinâmica das aulas algumas coisas ficam para depois e o livro mostra bem os procedimentos de técnica, segurança, finalidade e utilização dos equipamentos, etc.

 

“Sugestão de Leitura” publicada no Boletim CNM 2016-1.

Livre – A Jornada de Uma Mulher Em Busca do Recomeço, de Cheryl Strayed

Livre – A Jornada de Uma Mulher Em Busca do Recomeço, de Cheryl Strayed

Livre – A Jornada de Uma Mulher Em Busca do Recomeço, de Cheryl Strayed.

Por Eny Hertz

livro_025O que faz uma pessoa inexperiente trilhar sozinha 1.770 quilômetros da Pacific Crest Trail (PCT), umas das mais difíceis trilhas do planeta. Quase como um diário, este emocionante relato entrelaça passado e presente, com vários momentos que nos fazem querer se embrenhar na natureza.

 

“Sugestão de Leitura” publicada no Boletim CNM 2015-3.

Dissecando a Costura

Dissecando a Costura

Noutro dia, escalando com uns amigos, percebi que o guia utilizava as costuras montadas com as portas dos mosquetões opostos, resolvi pesquisar.

Comecemos pelo básico

Geralmente no Rio de Janeiro, uma via ao ser conquistada recebe proteções fixas (grampos ou chapeletas) ao longo da linha. Ao ser repetida a via, o guia coloca as costuras nestes grampos, ou seja elas são usadas para proteger o guia de uma queda rocha abaixo.

A costura é o conjunto composto de um fita fechada em anel e dois mosquetões sem trava.

O mosquetão com o gatilho reto é colocado na proteção, a fita deste lado deverá estar frouxa para não forçar movimentos neste mosquetão, evitando assim o “self-unclipping” do grampo, que é quando o mosquetão sai do grampo inadvertidamente. Pode ocorrer quando se clipa a corda de maneira errada, “de fora para dentro”, forçando a costura a se movimentar para cima. Ou quando se muda de direção acima da proteção.

O mosquetão com gatilho curvo, pode ter a fita mais justa, facilitando assim a colocação da corda, especialmente quando usamos uma fita expressa. Pode ter uma borrachinha, entretanto sua utilização em fitas de elos é muito perigosa, pois há o perigo, num momento crítico, da costura ser montada erradamente e de nada servir esta costura.

 

O “self-unclipping” da corda é quando a corda sai sozinha de dentro do mosquetão com uma queda do guia. Pode ocorrer quando o mosquetão está no mesmo lado da quedado guia. Ocorre mais nas vias esportivas e em tetos.

Caso não haja diferença de formato entre os mosquetões, escolha um para ficar somente na proteção. Isto é muito importante porque o mosquetão que fica na proteção sofre um desgaste forte, criando sulcos com quinas vivas, e se houver troca para uso com a corda, este mosquetão poderá cortar a mesma em caso de queda do guia.

O gatilho do mosquetão pode ser inteiriço ou de arame. A desvantagem do primeiro é que quando um guia cai, este mosquetão poderá abrir inadvertidamente e a corda sair dele. A vantagem do de arame, é a dissipação da energia de uma queda, não abrindo a porta. Além de não emperrar a porta quando estamos escalando na neve.

Qual comprimento escolher para as costuras?

Esta escolha depende da modalidade de escalada. Geralmente esportivas são linhas relativamente retas, onde podemos utilizar costuras expressas curtas (de 15 a 25 cm). Já em vias tradicionais, em grandes paredes, normalmente as vias são tortuosas, necessitando de costuras médias e longas para que a corda não forme um zigzag, deixando-a muito “pesada”.

Para a escolha do comprimento da costura, também devemos levar em consideração se o mosquetão da corda em caso de queda, não baterá numa quina da rocha, podendo abrir o mosquetão.

Como orientar uma costura?

Há entre os escaladores do Rio duas escolas para qual lado a porta do mosquetão da costura deverá ficar: direção da escalada ao sair da proteção ou de onde está a próxima proteção. Geralmente a proteção está ou num local que foi fácil para o conquitador instalá-la ou num local que realmente evitará o guia se machucar em caso de queda.

Alguns preferem proteger esta saída perigosa, colocando a porta do mosquetão para o outro lado.

Outros acreditam que cair na saída da proteção produzirá um loop de corda pequeno e com isto a possibilidade do unclipping é reduzido, mas cair perto da proteção seguinte, com muita corda para criar um grande loop, o unclipping é possível. Eles colocam a porta do mosquetão para o lado oposto da próxima proteção.

Como orientar? Você responde!

Como montar a costura?

Finalmente voltei à primeira questão: Colocar a porta de ambos mosquetões do mesmo lado ou em lados opostos?

Escrevo o que li na página da Undercling:

“Oito fabricantes recomendam o mesmo lado (incluindo Black Diamond, Petzl); três fabricantes recomendam lados opostos (incluindo Edelrid, Omega Pacifc) e três fabricantes (incluindo DMM, Mad Rock) recomendam ambas orientações…
O que vemos atualmente é a tendência das portas dos mosquetões ficarem do mesmo lado.”
Alguns alegam que num momento crítico os dois do mesmo lado facilitará a coloção do sistema. Mas creio que neste momento, sua memória muscular que entrará em ação.

Creio que é importante analisar se há ou não mudança de direção da linha, por exemplo, o guia saindo pela direita e mais acima vai para a esquerda pois a proteção está neste lado:

Com a porta do mosquetão da proteção colocado em relação ao lado da próxima proteção pode ser pressionado de tal forma que abrirá, ocorrendo o “self-unclipping”.

Com a porta do mosquetão colocado em relação à saída imediata pode ser pressionado na sua longitudinal, mas sem quebrar. Ou seja, não haverá “self-unclipping”.

Então, como montar? Você responde!

E que tal virar o mosquetão da corda? Deixando sua abertura para cima? Eliminaria a possibilidade do unclipping da corda, mesmo no lado da porta.

Fontes:

http://www.marski.org/artigos/121-artigos-tecnicos/488-uso-das-costuras-expressas-na-escalada-protecao-fixa-e-movel

https://www.petzl.com/GB/en/Sport#.VtibT-YjrIU

http://theundercling.com/carabiner-orientation-quickdraws-ways-carabiners-face/

http://www.rockandice.com/lates-news/how-to-properly-orient-a-carabiner-gate

https://www.youtube.com/watch?v=PPCAa6Xj0lo

Trilhas – A Incrível Jornada de Uma Mulher Pelo Deserto Australiano, de Robyn Davison

Trilhas – A Incrível Jornada de Uma Mulher Pelo Deserto Australiano, de Robyn Davison

Trilhas – A Incrível Jornada de Uma Mulher Pelo Deserto Australiano, de Robyn Davison.

Por Eny Hertz

livro_022Robyn Davison nos relata a jornada de 2.800 km com uma narrativa que nos prende em todas as páginas, com aventuras do primeiro ao último capítulo. Ela ganha uma clareza e entendimento da terra ao aprender a depender dela.

 

“Sugestão de Leitura” publicada no Boletim CNM 2015-2.

Dicas aos novos escaladores

Dicas aos novos escaladores

Publicado no Boletim CNM SETEMBRO 2014

Parabéns a todos os que se formaram no CBE-CNM-2014, agora inicia outra etapa, agora todos os participantes são responsáveis por todos os procedimentos.

Algumas das dicas que precisam estar presentes o tempo todo na cabeça!

  • Use capacete! Qual é a melhor situação? Um capacete rachado ou sua cabeça sangrando? Torne um hábito colocá-lo assim que chegar na base;
  • Só comece a dar segurança ao guia, após estar com o nó de encordoamento bem feito na sua cadeirinha;
  • Posicione seguramente em relação à rocha quando dar segurança ao guia, para o caso dele cair, você não ser jogado de encontro à rocha;
  • Pratique ascensão! A Pracinha de Itacoatiara é um ótimo local. Se você necessitar ascender depois de vários esticões, ficará satisfeita por ter praticado previamente;
  • Fique atenta com a comunicação: palavras curtas e bem diferentes das outras! Fale o nome do seu parceiro, repita os comandos dados por ele e diga “OK” no final;
  • Conheça a limitação de seu parceiro e escale dentro dela;
  • Evite escalar muito além de sua capacidade técnica e emocional por pressão de colegas de escalada ou pressão de seu ego. Escale por que você quer escalar e não porque os outros insistem com você;
  • Saia de sua zona de conforto em local controlado, para evoluir com segurança;
  • Não aceite novos procedimentos como dogmas, analise-os e experimente-os em local controlado;
  • Coloque um nó blocante como backup durante o rapel! Este momento é o mais crítico, é quando ocorre a maioria dos acidentes;
  • Antes de retirar a solteira para começar o rapel, verifique se o aparelho de freio está colocado corretamente e se o nó autoblock está bloqueando. Faça um nó nas duas pontas da corda;
  • Faça tudo com atenção e sem pressa! Boas escaladas e divirta-se!
O Caminho do Guerreiro da Rocha, de Arno Ilgner

O Caminho do Guerreiro da Rocha, de Arno Ilgner

O Caminho do Guerreiro da Rocha, de Arno Ilgner.

Por Eny Hertz

livro_011Excelentes dicas para esvaziarmos nossas mentes durante a escalada, aceitarmos novos aprendizados e melhorarmos nossa habilidade na rocha!

http://www.companhiadaescalada.com.br/pt/livros-de-montanhismo-escalada/ocaminho-do-guerreiro-darocha/

https://www.facebook.com/arno.ilgner

 

“Sugestão de Leitura” publicada no Boletim CNM 2014-2.