Acesso às Montanhas Fluminense

Publicado no Boletim CNM MAR/2013

O município conta, de forma resumida, com três serras principais: a Serra da Tiririca, os morros do Jacaré, Cantagalo e Serra do Malheiro e o Complexo dos morros da Viração, Santo Inácio e Sapezal.

Com estas três serras e as outras formações menores, o Município possui um potencial enorme para o porte de aventura, com visuais incríveis e formações interessantíssimas, mas infelizmente, apesar do potencial, hoje o montanhismo está quase que restrito a Serra da Tiririca.

O motivo é simples e trágico, sendo simplesmente a ingerência sobre nossas áreas verdes.

A Serra da Tiririca, com a criação do Parque Estadual de Serra da Tiririca, contou com a proteção do Estado, que permitiu que esta área continuasse segura quanto à violência urbana, e que o acesso a para a maioria de suas trilhas e paredes não fosse cercada por muros e casas, embora mesmo assim tenhamos tido perdas, são elas:

  • Trilha do Alto do Mourão via o Recanto de Itaipuaçú (fechada pelo condomínio Ubá Pedra do Elefante);

No Morro das Andorinhas, houve duas perdas:

  • Trilha da praia de Itaipu para o Morro das Andorinhas (fechada na década de 90 por uma construção ilegal);
  • Trilha da Praia de Itacoatiara para o Morro das Andorinhas, com o fechamento da Rua das Orquídeas (anos 80) e construção do Condomínio Village Itacoatiara (anos 90).

Já os morros do Cantagalo, Jacaré e Serra do Malheiro, tiveram grande redução de sua cobertura florestal, mas o acesso em si à suas trilhas não foi cerceado diretamente, exceto pelo fato que o crescimento da Favela do Cantagalo trouxe violência à região e com isso, houve alguns assaltos a pessoas que acessaram o Morro do Cantagalo. Por consequência, o ponto culminante dessa serra, com 405 metros de altitude, deixou de ser frequentado por montanhistas e escaladores. Mas atualmente, com a anexação dessa região ao Parque Estadual da Serra da Tiririca, podemos ter esperanças de ver essa região acessível novamente.

Os morros do Santo Inácio, Viração e Sapezal são o caso mais grave, pois não estão protegidos por leis específicas, tendo ocorrido desmatamentos pelas suas bordas e um aumento exponencial da violência contra frequentadores da montanha (assaltos à mão armada). Neste complexo, tivemos as maiores perdas de acesso, que são:

  • Acesso à trilha tradicional ao Morro do Santo Inácio via Rua Manuel Duarte, em São Francisco (a rua foi fechada por moradores e o final desta foi cercado por uma cerca eletrificada, devido à violência urbana);
  • Três trilhas que davam acesso de São Francisco ao bairro de Piratininga e Cafubá (construções de casa nas saídas);
  • A travessia São Francisco X Jurujuba;
  • Acesso à face norte do Morro do Santo Inácio, às vias de escalada ali existente e ao enorme potencial de conquistas de vias nesta parede de 250 metros de comprimento (construções de casas em praticamente todos os terrenos da Rua Mário Joaquim Santana, embora recentemente descobrisse um acesso por uma vila, ao fim dessa rua, a essa parede);
  • Acesso à parede sul/sudeste do morro do Santo Inácio, que hoje se encontra cercada pela favela do Maceió.

Em áreas fora destas serras, é possível a prática de esportes de montanha, como a região da Praia do Sossego, com ótimos bolders e o final da prainha de Piratininga, com um bom potencial para bolders, embora quase que inexplorado.

Tivemos também a criação e perda com o campo-escola do Centro, próximo à prefeitura nova (Rua São Pedro), criado no fim dos anos 90 com três vias, mas onde a prefeitura no inicio de 2000 fez uma construção e colocou grades lá, inviabilizando o uso da mesma.

Um outro local que temos uma certa dificuldade de acesso é o Morro do Morcego. Para acessar a Face Sul, temos que pedir permissão para entrar por uma casa, e dependemos do bom humor do morador, que se começarmos a aumentar a frequência, ele nega a entrada e somos obrigados pegar um grande vara mato a partir da praia de Adão. Na Face Norte, temos grande dificuldade se quisermos chegar por mar, houve casos em que um escalador foi ameaçado enquanto trabalhava na abertura de uma via, ficando impossibilitado de voltar, visto que foram soltos cachorros para impedir que ele retornasse.

De forma geral, infelizmente, as áreas que não se encontram protegidas sobre legislação ambiental específica (Unidades de Conservação) foram as que mais perderam sua cobertura florestal, e foram onde mais perdemos acesso às florestas e rochas.

O município, em suas gestões anteriores, não salvaguardou as florestas e os acessos às mesmas, em verdade, tratou-as como áreas para futuras construções, e não áreas para se preservar os ecossistemas, o lazer e o modo de vida dos frequentadores destas regiões niteroienses.

Salvo a região do Parque Estadual da Serra da Tiririca, as outras serras fluminenses se encontram em uma situação crítica, porém, reversível nos quesitos proteção e acesso.

Vamos torcer (e pressionar!) para que a gestão atual da Prefeitura de Niterói possa salvaguardar nossas belas montanhas.

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