Instalação e utilização correta das chapeletas

Instalação e utilização correta das chapeletas

Publicado no Boletim CNM Março/2014

Muito se pode falar dos diferentes tipos de proteção na escalada, suas variações, cuidados e peculiaridades. Por se tratar de um assunto vasto, neste artigo, me limitarei a falar somente das chapeletas.

Seja pelos elevados preços, pelas dificuldades em fixá-las ou mesmo pela cultura local, este tipo de proteção fixa ainda é pouco utilizado nas montanhas do Brasil. Por outro lado, já há algum tempo que são cada vez mais comuns em nossas paredes, em especial nas escaladas esportivas.

Com a presença cada vez mais frequente das “chapas”, também são mais frequentes os erros de instalação e uso destas proteções. Abaixo cito alguns dos pontos que devem ser observados.

Na instalação:

Alguns cuidado devem ser tomados logo na instalação.

  • Antes mesmo de iniciar a conquista precisamos observar o local e a rocha parta definir o tipo de proteção adequado. As chapeletas não devem ser utilizadas em ambientes salinos, assim como também não é aconselhado o uso em arenito ou quartzito.
  • Uma vez definida a utilização das chapeletas para a nova via, deve-se ter atenção à fixação (chumbadores). Dois tipos de chumbadores são encontrados, os tipo parabolt e os tipo UR (ou spit). Atualmente os UR’s não são mais utilizados na escalada, restando os parabolts para a colocação. Normalmente são utilizados os de 10mm (3/8”).
  • O ideal é que a chapeleta fique apoiada na parte lisa do parabolt após apertada a porca (sem que fique solta). Isso demanda um pouco de prática.
  • As arruelas são, em geral, as iniciadoras de ferrugem. É recomendado a utilização da arruela durante a expansão do parabolt (evitando arranhar a chapeleta), mas esta deve ser retirada para a colocação final.
  • Ao dar o aperto final, deve-se observar a posição da peça. O correto é que o parafuso esteja alinhado com a tração (parte inferior do olhal). Normalmente indicado na chapeleta.
  • Assim como os grampos, as chapeletas devem respeitas uma distância mínima de bordas ou de outras chapeletas de, no mínimo, 30cm.

No uso:

Não diferente dos grampos, devemos sempre observar a colocação e a condição das chapeletas antes de confiar 100% nelas. Além disto, outros cuidados devem ser respeitados em sua utilização.

  • Não é porque as chapeletas são fáceis de remover que elas podem ser removidas. Retirar chapeletas de uma via sem a autorização do conquistador (ou responsável) e sem avisar a comunidade escaladora, além de ser considerado roubo, pode gerar um grande problema pra quem escala a via e acredita que vai encontrar uma proteção acima.
  • Na montagem do rapel NUNCA passar a corda direto na chapeleta como é feito com os grampos (exceto na chapeleta dupla da bonier, própria para isso), isso pode danificar seriamente sua corda e colocar sua vida em risco. Prefira abandonar um cordelete (mínimo 5mm) que arriscar-se.
    • No caso de uma parada dupla (sem corrente ou elos), deve-se passar um cordelete por dentro dos dois olhais e fechá-lo com um pescador duplo. A partir daí equalizar e preparar uma parada convencional. Passar a corda pela parada.
    • Para o rapel em uma única chapeleta, passe um anel de cordelete pelo olhal e meie a corda nas duas alças do anel.
    • Confira este artigo que explica bem os procedimentos de rapel em chapeletas: http://www.marski.org/artigos/121-artigos-tecnicos/427-como-montar-um-rapel-em-chapeleta

Recomendo a leitura para mais informação:

Boas escaladas,

Leonardo Aranha

O melhor nó para emendar as cordas no rapel

O melhor nó para emendar as cordas no rapel

Publicado no Boletim CNM 2013-4

Perto de completar a minha maior idade de escalada uma questão é sempre recorrente entre os parceiros de cordada. “Qual o melhor nó para emendar as cordas no rapel?”

Quando comecei a escalar (1996) aprendi que para unir as cordas para o rapel o nó recomendado era o pescador duplo. Essa questão começou a me atormentar quando pela primeira vez, em um manual, vi uma figura de um nó simples (ou azelha) sendo utilizado com este propósito. É comum encontrar em livros e manuais o nó simples como recomendação na junção de cordas pro rapel. Até pouco tempo não me sentia seguro para utilizar este nó, ainda mais com o nome adotado por muitos de Euro Death Knot.

Estudando a respeito do assunto, fica claro porque o este nó é tão utilizado na junção de cordas pro rapel. Em relação ao pescador duplo, ele é mais rápido de atar, gera menos atrito ao puxar a corda, menos propenso a agarrar em algum lugar ao recolher a corda, funciona em cordas de diâmetros diferentes e menos trabalhoso para desatar.

Isso tudo é muito legal, mas duas perguntas ainda permaneciam na minha cabeça. Por que ele é chamado de nó da morte? Seria o nó simples tão forte quanto o pescador duplo?

Lendo um pouco mais, a primeira pergunta foi logo respondida. O nó simples, quando feito sem as devidas recomendações e sob determinadas condições, pode rolar sobre ele mesmo e sair pela ponta da corda. Já a segunda pergunta só foi respondida quando li um estudo feito pela Black Diamond sobre estes nós. O estudo mostra que o nó simples é de 20 a 30% mais fraco que o pescador duplo, mas também mostra que é mais que o suficiente para as piores condições de encontradas em um rapel.

Finalmente sabia responder (pra mim mesmo) a velha questão, mas aquele nome (Death Knot) sempre ecoava em minha cabeça na hora de rapelar e eu acabava optando pelo, velho conhecido, pescador duplo. Foi em uma escalada recente que, pela primeira vez, sem saber rapelei em uma corda emendada com o nó simples.

Agora, além de saber todas as vantagens, de ter conhecimento de um estudo sério sobre sua resistência e de finalmente testar o nó simples para a junção de cordas no rapel, eu não quero saber de outra coisa.

Não diferente de qualquer outro nó, a eficiência do nó simples dependerá do quão bem feito ele será atado. As recomendações são:

  1. O nó não deve ficar “trepado”. As cordas não devem cruzar entre elas em nenhum momento, ficando sempre paralelas.
  2. Aperte bem o nó. Dê puxões firmes em cada corda em ambos os lados do nó.
  3. Deixe uma sobra de 30 a 40cm em cada ponta de corda.

Segue o link do estudo da Black Diamond: http://blackdiamondequipment.com/en/qc-lab-what-is-the-best-rappel-knot.html

Boas escaladas,

Leonardo Aranha

no-simples