Assembleia Geral Ordinária do dia 18/11/2016

Assembleia Geral Ordinária do dia 18/11/2016

Na última sexta-feira, dia 18 de novembro de 2016, aconteceu a Assembleia Geral Ordinária (AGO) para eleger a nova diretoria do CNM. Muitos estiveram presentes
para apoiar o grupo que assume, pelos próximos dois anos, o compromisso de continuar fazendo o nosso clube crescer.

Muitos têm sido os avanços e as conquistas do nosso CNM, que cresceu não só em número de membros, como também de atividades. Conquistamos nosso novo site, muito mais funcional e interativo; novos guias foram formados; muitas atividades para todos os níveis de participação têm sido abertas; mutirões ambientais, que não só cumprem com seu papel de restauração e manutenção ambiental, como também com o papel de formação de consciência da necessidade de preservação; e workshops, cursos e palestras para agregar na formação dos nossos montanhistas… E a diretoria que assume a próxima gestão mantém o compromisso de continuar trabalhando para a construção de um CNM dinâmico, atento às demandas da comunidade que o integra e comprometido com as perspectivas de crescimento.

A nova diretoria é composta por Vinicius Araujo (Presidente), Alexandre Rockert (Vice-Presidente), Leandro do Carmo (Tesoureiro), Ary Carlos (Diretor Técnico), Patrícia Gregory (Diretora Social), Stephanie Maia (Diretora de Meio Ambiente), Andrea Vivas (Secretaria) e o Conselho Fiscal composto por Adriano Paz, Alex Figueiredo, Paulo Coelho e Mauro Mello (suplente).

Que venham os novos desafios!

O CNM SOMOS TODOS NÓS!!!

Doação à Família Vieira

Doação à Família Vieira

Doação à Família Vieira

 

No dia 02/11/2016, ocorreu um acidente com o escalador teresopolitano Fabricio Vieira enquanto fazia a aproximação para a conquista de uma nova via no São Pedro, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos (PNSO). O solo por onde ele passava cedeu e sofreu uma queda de, aproximadamente, 7 metros de altura, na qual fraturou uma das vértebras da lombar. Dois dias depois, ele foi operado e a cirurgia correu tudo bem, porém com um processo longo de recuperação.

Como se não bastasse esta situação, no dia 04/11/2016, o escalador teresopolitano Rafael Vieira (irmão do Fabricio) sofreu um acidente automobilístico na rodovia Rio x Teresópolis, no trecho em Guapimirim, e veio a falecer.

Além de toda essa tragédia, ficamos sabendo que o pai (Victor Vieira) dos dois escaladores e que também é um montanhista estava passando por dificuldades financeiras para custear tanto despesas relacionadas à internação de um filho, quanto ao funeral do outro filho.

Por essa razão e pelos vários comentários de pessoas querendo ajudar, a Diretoria do Clube Niteroiense de Montanhismo (CNM) decidiu ajudar essa família de montanhistas dedicando um espaço no site do clube para que todos pudessem doar qualquer quantia em múltiplos de R$ 10,00, aproveitando a facilidade de pagamento da loja do nosso site, além de divulgar o numero da conta corrente do Victor em nossos meios de comunicação.

Em poucos dias, conseguimos arrecadar R$ 1.450,00, no qual repassamos em duas parcelas, sendo uma de R$ 1.350,00 no dia 07/11/2016 e outra de R$ 100,00 no dia 14/11/2016, resultado da contribuição de 36 pessoas diferentes, sendo tanto de associados do CNM, quanto de não associados.

 

Utilizamos o seguinte endereço eletrônico para as doações:

https://www.niteroiense.org.br/produto/doacao-familia-vieira/

 

Segue a lista com os nomes das pessoas que doaram e que viabilizaram essa ajuda:

Vinicius Araujo
Leandro do Carmo
Leandro Collares
Flávia Figueiredo
Andréa Rezende Vivas
Eny Hertz
Patricia Costa Gregory
Maria de Fatima da Silva
Annelise Gramacho
Martha Helena Franco da Silva
Luiz Otavio Candido
Cynthia Franca
Marcelo Carvalho
Adriano de Souza Abelaira Paz
André Costa
Marcos Lima
Ana Claudia Campos
Ana Maria Xavier Assis
Veronika Fedotova
Flávio dos Santos Negrão
Marcia Tie
José Eduardo Ramos França
Alexandre Rockert
Waldecy Mathias
Maria de Nazaré Coelho de Souza
Adriana Pimenta
Taffarel Ramos Costa
Monica Carvalho
José Antonio da Silva Costa
Ary Carlos
Stephanie Maia
Renato Valentim
Luiz Alexandre Valadão de Souza
Carlos Innecco
Lea Andrade
Miriam Gerber

 

 

Atenciosamente,

Leandro Gonçalves do Carmo

Presidente do Clube Niteroiense de Montanhismo – CNM

Edital de Convocação da Assembléia Geral Ordinária a ser realizada 18 de Novembro de 2016

Edital de Convocação da Assembléia Geral Ordinária a ser realizada 18 de Novembro de 2016

Baixe aqui o edital de Convocação.

EDITAL DE CONVOCAÇÃO DA ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA A SER REALIZADA EM 18 DE NOVEMBRO DE 2016

Ficam os associados do CLUBE NITEROIENSE DE MONTANHISMO – CNM convocados a comparecerem à Assembleia Geral Ordinária, nos termos do TÍTULO 03 DOS PODERES CAPÍTULO 01  DA ASSEMBLÉIA GERAL ORDINÁRIA, em primeira convocação, no dia 18 de novembro de 2016, às 20:00 hs, no seguinte endereço: AABB São Francisco – R. Hélio da Silva Carneiro, 78 – São Francisco, Niterói, com o objetivo de deliberar sobre a eleição dos membros dos cargos de presidente, vice-presidente e tesoureiro para o biênio 2017/2018 e também a eleição dos membros do Conselho Fiscal e respectivo suplente para o para o biênio 2017/2018.

Conforme divulgado em nosso boletim Informativo de Junho de 2016, o prazo para inscrição das chapas terminou no dia 30 de setembro de 2016. Tivemos apenas uma chapa inscrita, sendo ela:

Presidente: Vinícius Gomes Araújo
Vice Presidente: Alexandre Rockert
Tesoureiro: Leandro Gonçalves do Carmo

Conselho Fiscal:
Paulo Ruas Pereira Coelho
Adriano Abelaira Paz
Alex Faria Figueiredo
Suplente: Mauro Mello

Atenciosamente,

Leandro Gonçalves do Carmo

Presidente

 

III Seminário de Mínimo Impacto

III Seminário de Mínimo Impacto

O Clube Niteroiense de Montanhismo em parceria com o Parque Estadual da Serra da Tiririca têm a honra de convidá-los para o III Seminário de Mínimo Impacto, que ocorrerá no dia 22 de outubro de 2016, na E. M. Professor Dario de Souza Castello, Itaipu.

Considerando aspectos da diversidade biológica, este evento tem como proposta promover o debate a cerca do uso público por montanhistas e escaladores na Unidade e, como objetivos, trazer à luz conhecimentos científicos a cerca dos impactos dessas atividades, buscar consolidar o conceito ético de mínimo impacto, bem como a sua prática.

As inscrições já estão abertas aos sócios, clique aqui.

Aos não associados confirmem presença no evento Facebook.

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Aposentando meu mosquetão

Aposentando meu mosquetão

Boletim CNM MAR-2015

Inspecionar seu Equipamento de Proteção Individual – EPI deve ser um hábito corriqueiro em sua vida. A inspeção de alguns tipos de equipamento de escalada é fácil: costura abrindo, rasgo na fita, etc. Com o mosquetão observamos se a porta funciona direito, sem barulho; se não há desgaste do metal feito pela corda, fratura visível, mesmo da largura de cabelo, corrosão etc. Com o aparecimento de qualquer um destes sinais, devemos aposentar o equipamento.

Sempre escutei vários escaladores aconselharem aposentar mosquetões depois de quedas, de qualquer altura. Muitos dizem que é mito e continuam com o mosquetão, caso a altura seja somente de até um metro (mais ou menos altura da cintura), no caso de somente uma queda. Acima desta altura a opinião é unânime: é necessário aposentar mosquetão, por questão de prevenção.

Resolvi pesquisar na internet para saber a opinião sobre quedas de até um metro, achei vários fóruns e algumas matérias . As pesquisas técnicas/experimentais são, em sua maioria, com alturas para escalada industrial. Desprezei qualquer informação sem metodologia científica. Foi difícil separar as informações confiáveis, das pouco confiáveis.

Escolhi a página

http://www.outdoorsafetyinstitute.com/index.php/news/single/should_you_retire_a_dropped_carabiner/

como principal fonte deste artigo, traduzi e encolhi o texto, pois tem muitas informações técnicas que poucos se interessariam. Para esses, o endereço está acima.

O mosquetão de escalada ao cair em superfície dura (concreto/rocha) pode apresentar microfraturas (invisíveis a olho nu) que podem enfraquecer a estrutura e podem torná-los inseguros. Fique alerta! Na dúvida, aposente-o. Sem discussão se cair pela segunda vez, mesmo de baixa altura, segurança acima de tudo. Microfraturas são reais e podemos encontrar várias pesquisas sobre o assunto, como a Simulating Micro-Fracture in Metal-Matrix Composites (http://iucat.iu.edu/iupui/6439632).

A única maneira de realmente saber se o mosquetão após uma queda pode continuar sendo usado é através de um teste de tensão numa máquina, ou seja fazê-lo quebrar, doa-lo para a ciência.

A grande questão da microfratura é que não vemos a olho nu numa inspeção caseira. Esta fratura pode causar um estresse concentrado e propagar sob grandes cargas, reduzindo cada vez mais a força do material. O metal ou qualquer outro material é imperfeito por natureza e tem defeitos em sua estrutura básica, incluindo pequenas falhas em suas ligações moleculares, semelhantes à micro fissuras. Caso a queda comprometa uma dessas fissuras, uma micro fratura pode ocorrer. A pergunta prática agora não é mais se micro fraturas surgem numa queda, e sim se o impacto realmente faz diferença na estrutura geral do mesmo, se faz diferença no suportar a carga prevista de fábrica e aguentar a próxima queda numa escalada.

Tradicionalmente um mosquetão era fabricado com forjamento frio, onde o metal é amalgado plasticamente, sua forma é deformada numa temperatura abaixo da cristalização, mas se rompiam mais facilamente. Atualmente, muitos mosquetões são fabricados com o processo de forjamento quente, permitindo assim formatos diferentes do equipamento, preservando a ductilidade, ou seja, podem se deformar sem se romperem.

O autor do artigo em que me baseei, Jim Margolis, junto com escaladores amigos, em 2007, quando estudante de engenharia mecânica, testou 30 mosquetões novos do mesmo modelo, com quedas de 6,3, 12 e 32 m , filmou cada queda e testou a carga máxima de cada um. Forjados a frio ou a quente. Uma queda para cada mosquetão. Não percebeu nenhuma diferença comparando com outros 10 (de controle) nunca usados, ou seja, que não sofreram queda. Este teste, no padrão da UIAA, foi feito tracionando o mosquetão até sua ruptura.

Ele afirma que o número de mosquetões testados não foi grande, nem quedas em diferentes rochas, nem diferentes formatos de mosquetão, por isto não pode ser considerado um teste exemplar. Para ver os vídeos e as tabelas, entre na página que está no início deste artigo.

Ele também testou, sem padrão científico, um mosquetão colocado no chão e recebendo objetos bem pesados caindo nele até o momento de ficar deformado. Ao ser tensionado, quebrou com 11 KN, bem abaixo das padrões de escalada. Nunca escale com mosquetões deformados!

Steve Nagode, engenheiro da REI testou 30 mosquetões em quedas de 10 metros e os comparou com outros 30 novos mosquetões (controle) do mesmo lote de fabricação. Não encontrou nenhuma diferença entre os grupos.

Margolis (mestre em engenharia mecânica) diz que apesar de não estar licenciado para atestar tecnicamente sobre o assunto, aconselha o escalador a não desprezar qualquer queda do mosquetão, nem ser displicente com qualquer equipamento. Mas que não precisamos ficar neuróticos com uma queda da cintura para baixo. Não houve estudo com mosquetão com quedas repetidas.

Um alerta que ele faz no final do artigo e eu assino abaixo: Escalar é perigoso, e não há razão para aumentar os riscos usando equipamento inapropriado (como é caso de queda de mosquetão).

Troque o mosquetão em nome da segurança de sua vida e a do outro. Custa pouco comprar um mosquetão novo, se compararmos com a possibilidade de um acidente.

Meu conselho: apesar de encontrar opiniões técnicas afirmando que podemos continuar usando o mosquetão depois da queda baixa (até de um metro), eu digo troque-o (principalmente se for emprestado! Seja ético!) em nome da segurança de sua vida e a do outro.

Mantenha-se seguro, o tempo todo!

Fontes:

http://www.outdoorsafetyinstitute.com/index.php/news/single/should_you_retire_a_dropped_carabiner/
http://www.onrope1.com/Myth1.htm
Do you need to retire dropped carabiners?
http://blackdiamondequipment.com/en/faqs.html##CLIMB
http://www.rei.com/learn/expert-advice/caring-for-your-carabiners.html

Curso de Emergência Pré Hospitalar para Montanhistas

Curso de Emergência Pré Hospitalar para Montanhistas

Amigo montanhista, você está preparado para quando algo der errado?

Como nos aventuramos em locais distantes do ambiente urbano, é importante sermos mais autônomos possível, pois precisamos saber o que fazer nas emergências em montanha.

O CNM em parceria com o instrutor Ian Will promoverá um curso onde aprenderemos técnicas de resgate, elaboração de plano de emergência, como imobilizar uma vítima e transportá-la com segurança, como conter uma hemorragia entre outros… Como o instrutor é montanhista, passará conceitos e técnicas usando nossos próprios recursos e ensinará também com equipamentos especializados como a maca envelope.

Nesta edição, para tentar viabilizar a agenda dos alunos, daremos duas opções de datas para as aulas teóricas, 01 e 02 de outubro e faremos a prática simulada no dia 09 de outubro.

São apenas 15 vagas, não fique fora dessa.

Inscrições – Ian Will 2198431-3060 / ian.will@hotmail.com

 

curso-aph

A temperatura que está nem sempre é a que sentimos!

A temperatura que está nem sempre é a que sentimos!

A sensação de temperatura que o corpo humano sente é frequentemente afetada por vários fatores. O corpo humano é uma máquina térmica que constantemente libera energia e, qualquer fator que interfira na taxa de perda de calor do corpo, afeta sua sensação de temperatura. Além da temperatura do ar, outros fatores significativos que controlam o conforto térmico do corpo humano são: umidade relativa, vento e radiação solar.

O índice de temperatura-umidade (ITU) é um avaliador do conforto humano para o verão. Baseado em condições de temperatura e umidade, ele é calculado pela equação abaixo:

ITU = (0,8 x T) + (UR ( T – 14,3 ) / 100) + 46,3

Onde, T = Temperatura em ºC, UR = umidade relativa do ar e ITU = Índice de Temperatura e Umidade.

indice de temperatura umidadeA evaporação do suor é uma maneira natural de regular a temperatura do corpo, pois o processo de evaporação é um processo de resfriamento. Quando o ar está muito úmido, contudo, a perda de calor por evaporação é reduzida, pois o ar já está saturado com umidade. Por isso, um dia quente e úmido parecerá mais quente e desconfortável que um dia quente e seco. Na tabela ao lado são mostrados os ITU’s calculados com temperaturas em graus Fahrenheit e Celsius.

À medida que sua temperatura corporal aumenta, a temperatura da pele também aumenta, então começa a transpiração. Em condições normais, o suor evaporaria, resfriando seu corpo. Em ambientes úmidos, o suor não consegue evaporar devido à saturação do ar, que já está denso com vapor d’água. O suor acumula sobre a pele, esquentando-a ainda mais e, consequentemente, seu corpo. Seu corpo tenta compensar tudo isso gerando ainda mais suor, que também não pode ser evaporado. O ciclo continua até a desidratação e o colapso do organismo, que não consegue mais desempenhar os movimentos esportivos. Essa é a forma que o organismo encontra para reduzir sua temperatura.

Para dias assim devemos manter-nos sempre hidratados, bebendo água em períodos regulares e mesmo sem sede. Evitar exercícios extenuantes e se possível, trocar aquela longa via ou caminhada, por uns boulders a beira mar ou perto de rios, ou até mesmo aquele passeio em uma cachoeira. Assim, poderemos sempre nos refrescar quando o calor apertar.

No inverno, o desconforto humano com o frio é aumentado pelo vento, que afeta a sensação de temperatura. O vento não apenas aumenta o resfriamento por evaporação, devido ao aumento da taxa de evaporação, mas também aumenta a taxa de perda de calor sensível (efeito combinado de condução e convecção) devido à constante troca do ar aquecido junto ao corpo por ar frio. Por exemplo, quando a temperatura é -8ºC e a velocidade do vento é 30Km/h, a sensação de temperatura seria aproximadamente de -25ºC. A temperatura equivalente “windchill” ou índice “windchill” ilustra os efeitos do vento.

temperatura equivalenteAnalisando a tabela nota-se que o efeito de resfriamento do vento aumenta quando a sua velocidade aumenta e a temperatura diminui. Portanto, o índice “windchill” é mais importante no inverno. No exemplo acima não se deve imaginar que a temperatura da pele realmente desça a -25ºC. Através da transferência de calor sensível, a temperatura da pele não poderia descer abaixo de -8ºC, que é a temperatura do ar nesse exemplo. O que se pode concluir é que as partes expostas do corpo perdem calor a uma taxa equivalente a condições induzidas por ventos calmos com a temperatura -25ºC. Deve-se lembrar que, além do vento, outros fatores podem influenciar no conforto humano no inverno, como umidade e aquecimento ou resfriamento radiativo.

Um anorak simples, do tipo corta vento, pode ser o suficiente para te deixar confortável, ou pelo menos minimizar o risco de hipotermia. Já passei por uma experiência na Travessia dos Olhos, na Pedra da Gávea, onde o vento forte estava me levando ao limite do frio, mas como levo sempre um anorak na mochila…

Este artigo foi publicado no Boletim CNM Setembro/2014.

 

 

Fontes:
http://www.cnpgl.embrapa.br/
http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=clima/confortoTermicoHumano
http://www.mundotri.com.br/2013/10/como-sobreviver-ao-calor-umido-parte-1/
http://fisica.ufpr.br/grimm/aposmeteo/cap3/cap3-4.html

MEPA – Origem e finalidade

Autor: André Ilha

Publicado no Boletim CNM 2016-2

No Brasil, como no restante do mundo, a escalada originalmente tinha como objetivo único chegar ao topo da montanha, ou então da parede quando esta não estivesse claramente associada a um cume. Os meios para se atingir este objetivo eram, de uma maneira geral, considerados pouco importantes – o que contava era o resultado.

O uso de artifícios como pitons e grampos para auxílio direto na progressão do escalador era visto com naturalidade, e nas grandes montanhas dos maiores maciços do planeta, o emprego de uma logística pesada, de inspiração militar, envolvendo carregadores, acampamentos intermediários estocados com comida e equipamento para pernoite e milhares de metros de cordas fixas era a norma.

Havia exceções, contudo, especialmente nos países anglo-saxões, como Inglaterra e Estados Unidos. Nestes, assim como em certas partes da Alemanha, desde muito cedo se cultivou o interesse pela escalada livre, ou seja, aquela na qual o escalador progride valendo-se apenas dos meios naturais que a rocha oferece como agarras e fendas, e graus notavelmente elevados foram atingidos muito cedo, desde o início do século XX.

O Brasil, no entanto, seguia uma tendência, digamos, europeia continental, que se refletia até no sistema de classificação de escaladas por nós adotado, que é claramente calcado no sistema alpino tradicional. Assim como na França e na Itália, o termo “escalada artificial” era destinado apenas para longas sequências de pitons ou grampos a serem vencidas com o auxílio de estribos, cordas duplas etc.. O uso de pontos de apoio artificiais isolados não conflitava com o conceito de “escalada livre”, e era encarado com muita naturalidade.

Quando eu comecei a escalar, em 1974, a parte realmente “livre” das escaladas brasileiras era a distância percorrida entre o grampo em que se estivesse pisando até o grampo que seria agarrado acima. “O grampo é a melhor agarra!”, cansei de ouvir, e esforços para evitá-los como tal eram vistos como uma excentricidade pitoresca, quando não ostensivamente desencorajados. Não surpreendentemente, a classificação brasileira terminava no VI grau, como a dos países alpinos europeus, e por aqui apenas um lance no Paredão Lagartão, no Pão de Açúcar, era unanimemente considerado como pertencente a este grau. Os mais conservadores, inspirados por seus semelhantes europeus, bradavam ser impossível ir além, repetindo um embate que levou o célebre alpinista tirolês Reinhold Messner a dar o título de Septimo Grado (O Sétimo Grau) para o livro em que defendeu a ruptura com a antiga ordem, e a expansão sem limites dos limites acanhados impostos ao desenvolvimento técnico na escalada pelos antigos tradicionalistas e sua engessada tabela de classificação.

No início, eu fazia como me ensinavam, claro, mas logo comecei a me sentir incomodado. Aquilo não me parecia certo. Ajudado por uma boa fluência no inglês, passei a ler compulsivamente revistas de escalada estrangeiras, e aí me dei conta de que a minha inquietação não era uma patologia isolada, mas, sim, uma forma de encarar a escalada que estava ganhando força de forma avassaladora em todo o mundo, Cada vez mais se valorizava, sempre que possível, a ascensão de escaladas em rocha apenas pela rocha, reservando os equipamentos de segurança exclusivamente para deter as quedas dos escaladores, em especial as de guia.

Naquele momento, em todos os países, inclusive naqueles com uma visão mais tradicional do esporte, jovens escaladores estavam se lançando em lances livres cada vez mais difíceis, fosse em novas vias, fosse repetindo vias abertas no velho estilo, agora porém sem usar os seus pontos (fixos ou móveis) de segurança como apoio artificial para avançar. Houve, na verdade, uma autêntica corrida para se fazer a “primeira ascensão em livre” (first free ascent) das antigas escaladas com artifícios, que passaram a merecer, muitas vezes, graus assombrosamente mais elevados do que os originais. Na Inglaterra foi-se além: antigas escaladas artificiais, quando feitas inteiramente em livre, ganharam não apenas um novo grau, mas também um novo nome! É como se uma escalada inteiramente nova tivesse surgido no mesmo espaço físico onde antes, incidentalmente, havia outra à moda antiga.

Ciente disso, propus, no início dos anos 80, que fizéssemos o mesmo por aqui: que tentássemos não apenas abrir novas vias no estilo “livre de verdade”, mas que, também, “liberássemos” as antigas vias com artificiais contínuos ou pontos de apoio artificiais isolados, como se fazia no resto do mundo.

Isto precisava ser registrado de alguma forma, não apenas para fazer justiça a estes avanços, mas, também, para servir como inspiração para realizações ainda mais significativas. Calhou que nessa época eu estivesse trabalhando, em parceria com minha ex-esposa, Lúcia Duarte, na primeira publicação brasileira voltada para o registro sistemático de vias de escalada: o “Catálogo de Escaladas do Estado do Rio de Janeiro”, que veio a ser editado em 1984 pela hoje extinta Cia. de Turismo do Estado do Rio de Janeiro (Flumitur).

Então nos ocorreu que no nosso trabalho poderíamos não apenas apontar quando uma escalada conquistada com diversos pontos de apoio artificiais tivesse sido guiada completamente em livre, como nos modernos guias estrangeiros. Em vez disso, caso uma via tivesse tido apenas alguns de seus pontos de apoio “eliminados”, mas outros ainda resistissem, esperando que escaladores melhor preparados técnica e fisicamente conseguissem evitá-los, isso deveria estar de alguma forma consignado. Assim, ficaria claro para todos o que ainda restava por fazer e lançaria toda aquela imensa energia disponível na nova geração em busca deste objetivo.

Desta forma, em vez de nos valermos da opção binária de escalada livre x escalada não livre (não importando se houvesse um ou dez pontos de apoio a serem eliminados), criamos o conceito de “máxima eliminação de pontos de apoio” (MEPA) para registrar estes progressos, registrando entre parênteses quantos pontos de apoio artificiais ainda não haviam sido evitados numa via qualquer. Quando a via já tivesse sido guiada inteiramente em livre, o número entre parênteses seria zero. Ou seja, teríamos uma ferramenta para acompanhar sistematicamente o progresso da escalada carioca e brasileira, em que os graus, com o tempo, ficariam cada mais altos e os números entre parênteses cada vez mais baixos, até eventualmente chegarem a zero.

Como na Europa, esta mudança conceitual não se deu sem resistência, e a reação foi especialmente feroz a partir de um grupo então encastelado no Centro Excursionista Rio de Janeiro (CERJ), para quem nós éramos todos meros “acrobatas”, escaladores elitistas e exibicionistas que perversamente não aderíamos à visão “certa” (a deles) do esporte. A tensão teve o seu ápice no I Encontro Brasileiro de Montanhismo, ocorrido em setembro de 1983 no auditório do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, em Teresópolis. Ali, entre aplausos e vaias dos partidários de cada filosofia, eu li um texto defendendo o admirável mundo novo da escalada brasileira e os avanços que já estavam em curso, texto este que depois veio a ser editado com o título de “Manifesto da Escalada Natural”. Em sua versão impressa, ele foi acompanhado por um texto complementar intitulado “Pontos de Apoio”, em que eu explicava didaticamente o que deveria ser entendido como “escalada livre” na visão moderna do esporte. Mas a expressão MEPA só foi cunhada mesmo no ano seguinte, como dito acima.

Embora criado para registrar e, mais do que isso, inspirar um momento específico da escalada brasileira, o conceito de MEPA, a rigor, mantém-se válido até hoje, pois é extremamente comum que vias ainda sejam conquistadas com um ou mais apoios artificiais que só mais tarde serão eliminados, seja pelos próprios conquistadores, seja por outros escaladores.

Deixado para Morrer, de Beck Weathers

Deixado para Morrer, de Beck Weathers

Deixado para Morrer, de Beck Weathers.

Por Leandro do Carmo

livro_033Para quem já leu os livros “No Ar Rarefeito” e “A Escalada”, chegou a conclusão que foi um milagre que salvou Beck Weathers. Dado como morto na aterrorizante temporada de 96, do Everest, onde 8 pessoas morreram. O livro conta o que o autor sentiu durante o tempo em que permaneceu acima da Zona da Morte e como isso mudou sua vida, principalmente no seu relacionamento com sua família.

 

“Sugestão de Leitura” publicada no Boletim CNM 2016-2.