Resumo do Estudo de Grampos no Brasil

Em 1999, Marcelo Roberto Jimenez e Miguel freitas fizeram um interessante estudo sobre as proteções fixas utilizadas em escaladas no Brasil.

Foram feitos cálculos e alguns testes práticos (em campo e laboratório) afim de estimar a forma sofrida pelo sistema durante uma queda de guia e qual a carga máxima suportada pelos grampos comumente usados como proteção fixa no Brasil.

Em 2013 eles revisaram este material e acrescentaram informações sobre o pouco que havia mudado 14 anos depois.

O estudo e a revisão estão bem detalhados em um documento de 35 páginas por eles publicado.

Resumo aqui minha visão do que eles relataram neste documento

Coloco abaixo um breve descritivo dos testes realizados:

  • Foram testados 4 grampos de ½” com olhal de 3/8”.

Em média com olhal para cima eles aguentaram uma carga de 1250kgf.

  • Foram testados 3 grampos de ½” com olhal de 3/8”.

Em média com olhal para baixo eles aguentaram uma carga de 3500kgf.

  • Foram testados 2 grampos de ½” com olhal de 1/2”.

Em média com olhal para cima eles aguentaram uma carga de 4500kgf.

  • Foram testados 2 grampos inox de ½” com olhal de 3/8”.

Em média com olhal para cima eles aguentaram uma carga maior que 2000kgf.

  • Foi testado 1 grampo de ½” com olhal de 1/4”.

Com olhal para cima ele aguentou uma carga superior a 2600kgf.

Resumindo, a tabela mostra os resultados encontrados nos testes práticos em relação a força para ruptura dos grampos:

Material Diam. Haste Principal Diam. Olhal Quant. de Amostras Posição do Olhal Força Ruptura
Aço carbono 1020 1/2″ 3/8″ 4 Para cima 1250kgf
Aço carbono 1020 1/2″ 3/8″ 3 Para baixo 3500kgf
Aço carbono 1020 1/2″ 1/2″ 2 Para cima 4500kgf
Aço Inoxidável 1/2″ 3/8″ 2 Para cima 2000kgf
Aço Inoxidável 1/2″ 1/4″ 1 Para cima 2600kgf

Analisando estes valores e comparando com o sugerido pela Norma UIAA eles chegaram a conclusão de que da forma que são construídos e instalados os grampos não são recomendados como proteção fixa.

Eles levantaram algumas recomendações em relação a material dos grampos e da importância de uma instalação bem feita.

Porém ao meu ver o principal legado deste estudo foi mostrar que os grampos aguentam mais carga quando instalados com o olhal voltado para baixo

quando comparado a forma mais comum de utilização, onde os grampos são instalados na rocha com o olhal voltado para cima.

Hoje os grampos são instalados com olhal para cima para evitar força na solda, que se mal feita torna-se o ponto mais fraco do sistema.

Ou seja, para que os grampos fossem instalados com olhal para baixo o ideal seria eliminar as soldas, que poderia ser conseguido com a fabricação de grampos pelo processo de forjamento.

Como grampos forjados seriam extremamente caros devido ao custo do processo isso não parece viável.

Uma alternativa então é melhorar a qualidade das soldas, de forma a garantir que estas sejam bem feitas e que os grampos possam ser instalados com o olhal para baixo.

Como recomendação para melhorar as soldas de forma a poder seguramente instalar os grampos com o olhal pra baixo, aumentando a resistência, eles recomendam as 3 medidas abaixo:

  • Utilização de chanfro nas soldas;
  • Marcação dos grampos para rastreabilidade;
  • Utilização de mecanismos de expansão na instalação. (Esta afirmação não se manteve na atualização de 2013).

Eu concordo com eles nos 02 primeiros pontos. Porém não acho que estas recomendações sejam o bastante para garantir que a solda seja bem feita e por isso acrescentaria ainda os pontos a seguir:

  • Utilização de Especificação de Procedimento de Soldagem (EPS) pré-qualificada para realização das soldas.
  • Exames destrutivos por amostragem;
  • Exames não-destrutivos (No mínimo visual) individuais;

Sobre a utilização de chapeletas, que passam por testes de certificação e com isso possuem carga máxima definidas pelo fabricante, em torno de 2500kgf, é importante lembrar que são bastante seguras porém se mal instaladas também podem colocar o escalador em risco. Materiais diferentes não devem ser usados nas porcas e parafusos.

Na versão de 2013 eles finalizam o artigo com uma sessão de perguntas e respostas muito útil, que eu resumo abaixo.

  1. Inox (grampo e chapeleta) não deve ser usado em falésias próxima ao mar.
  2. Titânio é uma solução para beira-mar, de preferência colados.
  3. Não utilizar paletas na instalação de grampos.
  4. Um grampo P de aço carbono 1020 de ½” com olhal para cima resiste em média 1300kgf de força transversal sem deformações plásticas. Esta força está abaixo da normal UIAA que sugere 2500kgf.
  5. Um grampo P com olhal para baixo resiste em média mais de 2500kgf de força transversal sem deformações plásticas, atendendo a normal UIAA.
  6. Não devem ser usados grampos com haste de 3/8”.
  7. Recomenda-se usar paradas duplas e rapelar com a corda nos 2 grampos.
  8. Correntes não devem ser usadas em paradas.

Para concluir, recomendo a leitura do artigo produzido por eles e lembro que há muito pouco estudo disponível no Brasil sobre as proteções fixas então sugiro aos acadêmicos escaladores que aproveitem-se disto para realizar seus estudos e ajudar no desenvolvimento de nosso esporte.

 

Boas escaladas!

Leandro Pestana

Junho/2015

Clube Niteroiense de Montanhismo

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